Faz um bom tempo que esse humilde website não recebe uma
injeção de conteúdo. Enfim por onde andam os Justiceiros Jogáveis e o editor
que silenciosamente os cataloga? Lutando por um futuro melhor; Perseguindo um
mestrado, estudando o gênero à sua conclusão máxima. Mas vamos deixar de lado
as perseguições de uma pessoa, e vamos falar das perseguições e ambições de
países: A turnê mundial pelo gênero de Super Heróis.
Um olá
Agora por que pesquisar sobre o gênero e como ele evoluiu
pelos diferentes países do mundo? O que há para se ganhar nisso, pelo ponto de
vista dos jogos sobre super heróis?
A reposta é: Tudo.
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"Go Heroes!" um rpg brasileiro sobre super heróis japoneses |
Os Super Heróis não vivem em uma bolha, na realidade é o
total contrário: O gênero é conhecido por fazer parte de uma “cultura popular
maior”. Enquanto a arte sequencial atribuída à hqs nem sempre lida com uma
cultura pop, o gênero de Supers quase sempre é escrito para um público cativo,
que compreende certos elementos. É um dos motivos da continuidade ser tão
importante para ele, é uma espécie de mitologia construída ao longo dos anos
que alimenta novas histórias. Indo um pouco mais fundo, um exemplo de supers
americanos nos demonstra esse conceito facilmente:
Quadrinhos de Super Herói enquanto que não nasceram para
serem fontes de propaganda da segunda guerra mundial, explodiram em
popularidade nesse período, com personagens interagindo com questões, situações
e problemas da grande guerra, um assunto atual e bastante real. E esses heróis
apresentavam um ponto de vista bem americano, alguns até mesmo com agendas
politicas de dar suporte as tropas americanas.
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Super Homem contra o Eixo do Mal |
E isso não foi só no começo do gênero na mídia de
quadrinhos, na guerra fria o Homem-de-Ferro tinha que enfrentar outro usuários
de armadura (“Que eram feitas para durar, não como essas armaduras capitalistas
que são jogadas fora todo mês”) e até mesmo uma super espiã conhecida
como...Viuvá Negra! A espiã russa começou como uma comunista – E como uma vilã!
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Destaque para a Viúva Negra no fundo. Crimson Dynamo eventualmente vira um herói russo com o passar do tempo |
“Amamos nossos super-heróis porque eles se
recusam a desistir de nós. Podemos analisa-los até destruir sua existência,
mata-los, bani-los, ridiculariza-los e ainda assim eles voltam, lembramo-nos
pacientemente de quem somos e quem gostaríamos de ser. São uma poderosa ideia
viva - um meme, para usar a terminologia de Richard Dawkins que se propagou no
universo de papel a realização, com consequências inconcebíveis. (...)As
histórias de Super Heróis são tratadas
como os níveis ditos mais baixos de nossa cultura, mas, como um estilhaço de um
holograma, elas contém em seu cerne todos os sonhos e medos de gerações em
miniaturas vivas”
Destaque feito por nós da Playing Hero.
Se super heróis são um “estilhaço de um
holograma” e que “elas contém em seu cerne todos os sonhos e medos de gerações
em miniaturas vivas” – Então iremos encontrar tais sonhos e medos de diferentes
culturas embebidos nos heróis espalhados pelo mundo. Isso dará mais clareza ao
se pesquisar jogos do gênero feitos por outros países, além de servir como uma
pesquisa sobre como representar heróis de outras culturas em jogos – Similar
com o que o Super Dragon acabou se transformando.
Eis que nossa Turnê começa. Bem vindos ao
Brasil!
O Vilão cinzento
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O "Garra Cinzenta"! Todos tremem quando ouvem pronunciar o seu nome! |
Um ano antes do Super Homem solidificar o gênero de Supers iniciado por Pimpinela Escarlate ou até mesmo Tarzan na
mídia de quadrinhos, uma tirinha brasileira com um impacto internacional já
tomava de assalto a imaginação de leitores.
Publicado inicialmente na “Gazetinha”, um
suplemento do jornal “A Gazeta” de São Paulo em 1937, “Garra Cinzenta” tinha um formato que antecedia os quadrinhos, o de tirinhas.
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Um exemplo da tirinha |
O quadrinho consiste nos planos maléficos do
super vilão que dá o nome a história, Garra Cinzenta, que age de maneira
bastante similar como os cientistas malucos das coleções de “Pulp” americanos
ou ainda os cientistas malvados dos filmes de lucha libre mexicanos (algo que
vamos lidar quando nossa turnê passar pelo México).
Mas o Garra é único, no sentido que suas
roupas, suas criações e suas motivações enquanto que similares ao arquétipo de
cientista maluco encontra algumas novidades exclusivas. Os seus planos enquanto
que funcionam a principio, eventualmente colapsam sobre eles mesmos. Seu robô
maligno, Flag é seu ás na manga para derrotar os policiais que estão tentando
prende-lo, mas é justo ele o responsável por sua própria morte. Há um tom quase
de comédia nas ações do Garra, por mais que ele obtêm sucesso, seu “dragão”
(Flag) e sua serva (Dama-de-Negro) ambos acabam se voltando contra ele.
Essa tirinha divide alguns aspectos curiosos
com “Super Homem” que veio no ano seguinte.
O primeiro aspecto é que assim como Super
Homem é uma tentativa de pegar certos arquétipos e conceitos dos livretos
“Pulp” e aplica-los em arte sequencial. O segundo é o fato de que o primeiro
conceito do Super Homem clássico está atrelado a um cientista maluco também, em
um conto chamado “The Reign of Superman” (“O reino do Superhomem”).
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"O Reino do Super Homem" |
As tirinhas usam personagens com nomes
americanos, ela tem um ar de “história estrangeira traduzida para o português”
ao em vez de algo tipicamente brasileiro, mas é apenas o “ar”. O tom e como os
personagens se comportam tem muito a ver com um “brasileirismo” dos anos 30,
além da forma que os personagens apresentados são humanos, frágeis, cometem
erros, e fazem o melhor que podem.
Incluo nisso o antagonista, Garra
Cinzenta. Ele começa como um mito para os policiais que o perseguem, o
assassino estrangulador cuja identidade não é descoberta, com todas as
testemunhas falecendo. Ele é detido com certa
dificuldade pelo chefe de policia do caso, apenas para aparecer na semana
seguinte vivo novamente. O nosso super vilão, dotado de super ciência, não
consegue sequer derrotar policiais comuns!
Apesar dele ser claramente diferente
de um ser humano “comum” (O Garra leva tiros pelo corpo, é deixado para morrer
e ele simplesmente volta) ele ainda tem falhas como um ser humano, seus planos
nem sempre dão certo, ele tem uma vaidade e ganancia que não parecem forçadas
ou de outro mundo ele age como um bandido brasileiro, querendo colocar a
policia em seus esquemas corruptos.

“Está no laboratório daquele que é tão poderoso quanto a Deus, porque venceu a morte!”
O Garra Cinzenta falece quando na confusão
com a policia, seu fiel robô Flag acaba por ser voltar contra ele o matando.
Afinal, quais elementos dessa história
podemos identificar? O elemento mais claro é a fragilidade dos personagens, o
quão “humanos” eles são. Até mesmo o vilão mascarado que tem o poder de reviver
pessoas e dar vidas a objetos falha, comete erros, tem problemas de
personalidade e é derrotado por sua própria incompetência.
Enquanto que não se sabe o verdadeiro autor
do argumento da história, se sabe que ela correu o mundo encontrando sucesso no
México, França e Bélgica. O personagem ficou associado ao seu misterioso
criador, nunca surgindo novamente em outra história.
E assim, misterioso, curioso e estranho, o
primeiro “Super” brasileiro se vai. Visite a Playing Hero semana que vem para
continuarmos nossa exploração do Brasil. Quais mistérios os 80 anos de gênero
nos aguardam?
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