Os Guardiões da
Galáxia são incríveis.
Certo mas isso você
já sabia, em especial se você clicou nesse artigo. Mas por
“incrível” eu quero dizer mais do que como filme, ou como
propriedade intelectual. Também não me refiro ao poder dos
personagens ou ainda da qualidade do filme. E sim no (suposto) impacto que eles
causaram na opinião pública, as "barreiras de gênero" que
os Guardiões destruíram. Esse filme é a “pedra de roseta” para
se compreender como o público consome super-heróis como gênero, e ao julgar as reações ao filme o futuro dessas outras mídias que se utilizem desse gênero é
brilhante.
O estranho encontra o galático
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Os primeiros Guardiões da Galáxia de Arnold Drak e Gene Colan. Da esquerda para direita: Major Victory, Charlie-27, Martinex e Yondu |
A primeira coisa que
salta aos olhos no filme é o quão colorido ele é, e a total falta de medo
de ser estranho ou de ser ridículo. Se os acontecimentos de Guardiões
ocorressem em um filme puramente Sci Fi estariam o chamando de
“paródia” ou até mesmo uma comédia. As piadas e situações
engraçadas quase não tem fim roubando cenas inteiras mas a
genialidade do filme (E o que o aproxima do gênero, como veremos a
seguir) é como tais cenas engraçadas são contrastadas com cenas
sérias. Tais cenas sérias são absurdas e tem a mesma “altura”
das cenas engraçadas. Se há uma piada envolvendo a prisão inteira
e um plano de Rocky (Rocket Raccoon), há uma cena de ação de tirar
o folego em igual proporção. Se há um discurso maligno de Ronan,
há um discurso malandro de Peter Quill tentando (E falhando)
conquistar o coração de Gamora.
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Os Guardiões "modernos", de Dan Abnett e And Lanning. Da esquerda para direita: Gamora, Rocket Raccoon, Star-Lord, Adam Warlock, Drax e Phylla-Vell |
O contraste do que é
“sério” e “engraçado” no filme é gritante mas justamente
por ser gritante é que o faz “pertencer” um ao outro. A história (quando) é séria, é maior do que a vida assim como o carisma de seus personagens e humor fazem parte da ideia de que são mais do que
meramente humanos. O adjetivo “Super” pode ser jogado em qualquer
elemento de Guardiões da Galáxia e ele não pareceria fora de
lugar. Super Poderes? O filme não deixa nada explicito, mas os
personagens tem bugigangas que fariam o Batman corar, “heróis”
que se usam de espadas e facas que cortam ao meio seres vivos com
armaduras pesadas, uma arvore imensa com super força e que
aparentemente pode regenerar seus membros...Nunca é explicado quais
são os poderes dos personagens exatamente mas que eles tem
superpoderes ah eles tem.
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Os Guardiões contemporâneos, por Michael Bendis e diversos outros artistas: Rocket Raccoon, Drax, Gamora e Star-Lord retornam, Groot que foi introduzido no time anterior também faz um retorno. Homem-de-Ferro se junta ao grupo com uma armadura nova |
A dicotomia dos
personagens é algo que remete mais aos universos cósmicos e
superpoderosos de Jack Kirby do que...As ruas de Nova Iorque de Jack
Kirby. É engraçado apontar que esse filme tem tanto de um autor
para diferencia-lo de “Vingadores”, “Thor” ou “Capitão
America” ao mencionar esse autor novamente mas é essa a verdade:
O herói com problemas, o herói estranho, bizarro e incoerente porém
(eventualmente) puro é algo muito comum não apenas em “Surfista
Prateado” mas é um tema recorrente tanto para as diferentes encarnações dos Guardiões da
Galáxia clássicos (feitos por Arnold Drake e Gene Colan ) quanto ao
ritmo dos quadrinhos envolvendo super-heróis intergaláticos.
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A trilogia que nos introduziu ao poder cósmico, Galactus, e o Surfista Prateado, por Jack Kirby e Stan lee |
Tal ritmo, nasceu com
Galactus*, um supervilão complicado que estava além do bem e do mal, e o Surfista Prateado, o herói
bizarro que serve um mestre destruidor, apesar do Surfista em si ter um coração gentil e puro.
O divino, o
tecnológico, eles são um como evidenciado pelas estranhas máquinas de Galactus que o alimentam. Isso é um elemento muito comum as
criações de Kirby (A Tecno-Asgard de Kirby é um ótimo exemplo) e como ele construiu a “base” para os
universos intergaláticos tanto da Marvel quanto da DC os dois selos
que moldaram o gênero de supers a ideia de “Aventura de Super
Heróis” do espaço tem tais elementos. Não foi diferente no
filme. A motivação do vilão foi um misto de vingança pessoal com
dogma religioso e rituais estranhos com tecnologia que beira a magia junto de poderes cósmicos que não fazem sentido algum quando vistos por uma
ótica mais “Hard Sci Fi”...Guardiões da Galáxia é o filme
definitivo para a fusão de “Sci Fi intergalático” com “Super
Heróis”.
E ao julgar a reações
de crítico e público, Super Heróis não são mais limitados (Nunca
realmente foram, mas a grande percepção de que “Filmes de herói
são uma modinha” que você pode encontrar em críticos de cinema
somado a filmes similares pode levar a tal conclusão) as grandes
cidades e histórias de origem. O gênero deixou de ser uma formula,
ao menos para o grande público.
E parte disso se deve
ao esforço dos estúdios Marvel em tentar vender a ideia de que
esses personagens convivem em um universo, com sua própria mitologia
e lógica interna.
Resta saber se outras
obras em outras mídias seguiriam como tal, e como o público
consumiria tais produtos.
*É um tanto injusto fingir que apenas com a criação de "Galactus" que se construiu uma base para o "Super Herói intergalático". Jack Kirby e Stan Lee introduziram muitos conceitos de ficção cientifica e exploração espacial em seus quadrinhos do Quarteto Fantástico, incluindo diversos alienígenas e culturas fantásticas. Galactus contudo, foi o momento onde os temas que vemos hoje nos "Guardiões da Galáxia" emergiram com mais clareza.
Enfim depois de tempos voltei a ver teu blog, e pra variar ótimo e elucidativo artigo, ainda mais para um leigo em comics de super heróis que nem eu, que admira o gênero, mas tem ciência de não ter tido paciência pra conhecer mais a fundo as sagas em sua origem, as próprias HQs.
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