sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Turnê Mundial: Brasil parte 1




Faz um bom tempo que esse humilde website não recebe uma injeção de conteúdo. Enfim por onde andam os Justiceiros Jogáveis e o editor que silenciosamente os cataloga? Lutando por um futuro melhor; Perseguindo um mestrado, estudando o gênero à sua conclusão máxima. Mas vamos deixar de lado as perseguições de uma pessoa, e vamos falar das perseguições e ambições de países: A turnê mundial pelo gênero de Super Heróis.


Um olá



Agora por que pesquisar sobre o gênero e como ele evoluiu pelos diferentes países do mundo? O que há para se ganhar nisso, pelo ponto de vista dos jogos sobre super heróis?
A reposta é: Tudo.

"Go Heroes!" um rpg brasileiro sobre super heróis japoneses
Os Super Heróis não vivem em uma bolha, na realidade é o total contrário: O gênero é conhecido por fazer parte de uma “cultura popular maior”. Enquanto a arte sequencial atribuída à hqs nem sempre lida com uma cultura pop, o gênero de Supers quase sempre é escrito para um público cativo, que compreende certos elementos. É um dos motivos da continuidade ser tão importante para ele, é uma espécie de mitologia construída ao longo dos anos que alimenta novas histórias. Indo um pouco mais fundo, um exemplo de supers americanos nos demonstra esse conceito facilmente:

Quadrinhos de Super Herói enquanto que não nasceram para serem fontes de propaganda da segunda guerra mundial, explodiram em popularidade nesse período, com personagens interagindo com questões, situações e problemas da grande guerra, um assunto atual e bastante real. E esses heróis apresentavam um ponto de vista bem americano, alguns até mesmo com agendas politicas de dar suporte as tropas americanas.
Super Homem contra o Eixo do Mal
E isso não foi só no começo do gênero na mídia de quadrinhos, na guerra fria o Homem-de-Ferro tinha que enfrentar outro usuários de armadura (“Que eram feitas para durar, não como essas armaduras capitalistas que são jogadas fora todo mês”) e até mesmo uma super espiã conhecida como...Viuvá Negra! A espiã russa começou como uma comunista – E como uma vilã!

Destaque para a Viúva Negra no fundo. Crimson Dynamo eventualmente vira um herói russo com o passar do tempo
 Mas se a mera existência desses períodos da história e o ponto de vista bem especifico e bem americano dos personagens falhe a vender a idéiia que super heróis são fortemente influenciados pela cultura do pais que os cultiva, por que não consultar a opinião de Grant Morrison, um dos maiores escritores de quadrinhos de todos os tempos? Eis o que Morrison tem a dizer sobre o que se trata o gênero de Supers:
“Amamos nossos super-heróis porque eles se recusam a desistir de nós. Podemos analisa-los até destruir sua existência, mata-los, bani-los, ridiculariza-los e ainda assim eles voltam, lembramo-nos pacientemente de quem somos e quem gostaríamos de ser. São uma poderosa ideia viva - um meme, para usar a terminologia de Richard Dawkins que se propagou no universo de papel a realização, com consequências inconcebíveis. (...)As histórias de Super Heróis são tratadas como os níveis ditos mais baixos de nossa cultura, mas, como um estilhaço de um holograma, elas contém em seu cerne todos os sonhos e medos de gerações em miniaturas vivas

Destaque feito por nós da Playing Hero.

Se super heróis são um “estilhaço de um holograma” e que “elas contém em seu cerne todos os sonhos e medos de gerações em miniaturas vivas” – Então iremos encontrar tais sonhos e medos de diferentes culturas embebidos nos heróis espalhados pelo mundo. Isso dará mais clareza ao se pesquisar jogos do gênero feitos por outros países, além de servir como uma pesquisa sobre como representar heróis de outras culturas em jogos – Similar com o que o Super Dragon acabou se transformando.

Eis que nossa Turnê começa. Bem vindos ao Brasil!

O Vilão cinzento

O "Garra Cinzenta"! Todos tremem quando ouvem pronunciar o seu nome!
Um ano antes do Super Homem solidificar o gênero de Supers iniciado por Pimpinela Escarlate ou até mesmo Tarzan na mídia de quadrinhos, uma tirinha brasileira com um impacto internacional já tomava de assalto a imaginação de leitores.

Publicado inicialmente na “Gazetinha”, um suplemento do jornal “A Gazeta” de São Paulo em 1937, “Garra Cinzenta” tinha um formato que antecedia os quadrinhos, o de tirinhas.

Um exemplo da tirinha
O quadrinho consiste nos planos maléficos do super vilão que dá o nome a história, Garra Cinzenta, que age de maneira bastante similar como os cientistas malucos das coleções de “Pulp” americanos ou ainda os cientistas malvados dos filmes de lucha libre mexicanos (algo que vamos lidar quando nossa turnê passar pelo México).
Mas o Garra é único, no sentido que suas roupas, suas criações e suas motivações enquanto que similares ao arquétipo de cientista maluco encontra algumas novidades exclusivas. Os seus planos enquanto que funcionam a principio, eventualmente colapsam sobre eles mesmos. Seu robô maligno, Flag é seu ás na manga para derrotar os policiais que estão tentando prende-lo, mas é justo ele o responsável por sua própria morte. Há um tom quase de comédia nas ações do Garra, por mais que ele obtêm sucesso, seu “dragão” (Flag) e sua serva (Dama-de-Negro) ambos acabam se voltando contra ele.
Essa tirinha divide alguns aspectos curiosos com “Super Homem” que veio no ano seguinte.
O primeiro aspecto é que assim como Super Homem é uma tentativa de pegar certos arquétipos e conceitos dos livretos “Pulp” e aplica-los em arte sequencial. O segundo é o fato de que o primeiro conceito do Super Homem clássico está atrelado a um cientista maluco também, em um conto chamado “The Reign of Superman” (“O reino do Superhomem”).

"O Reino do Super Homem"
As tirinhas usam personagens com nomes americanos, ela tem um ar de “história estrangeira traduzida para o português” ao em vez de algo tipicamente brasileiro, mas é apenas o “ar”. O tom e como os personagens se comportam tem muito a ver com um “brasileirismo” dos anos 30, além da forma que os personagens apresentados são humanos, frágeis, cometem erros, e fazem o melhor que podem.

Incluo nisso o antagonista, Garra Cinzenta. Ele começa como um mito para os policiais que o perseguem, o assassino estrangulador cuja identidade não é descoberta, com todas as testemunhas falecendo. Ele é detido com certa dificuldade pelo chefe de policia do caso, apenas para aparecer na semana seguinte vivo novamente. O nosso super vilão, dotado de super ciência, não consegue sequer derrotar policiais comuns! 

Apesar dele ser claramente diferente de um ser humano “comum” (O Garra leva tiros pelo corpo, é deixado para morrer e ele simplesmente volta) ele ainda tem falhas como um ser humano, seus planos nem sempre dão certo, ele tem uma vaidade e ganancia que não parecem forçadas ou de outro mundo ele age como um bandido brasileiro, querendo colocar a policia em seus esquemas corruptos.

A sua risada icônica (“Ah! Ah! Ah!”), a maneira cheira de prosa e firula que parece ter saído diretamente de uma encarnação do Dr. Destino, seu robô Mac-Flaganan (Ao qual ele chama carinhosamente de “Flag”), o homem-macaco ao qual ele mantém cativo em suas galerias secretas (Seu nome é Curberry), uma mulher reencarnada pelo o poder da “vivicação da matéria” chamada Dama-de-Negro, todos esses elementos compõem os feitos do personagem, transformando em uma figura maior do que a vida (E a morte, seguindo o tema da história.)

“Está no laboratório daquele que é tão poderoso quanto a Deus, porque venceu a morte!”

O Garra Cinzenta falece quando na confusão com a policia, seu fiel robô Flag acaba por ser voltar contra ele o matando.

Afinal, quais elementos dessa história podemos identificar? O elemento mais claro é a fragilidade dos personagens, o quão “humanos” eles são. Até mesmo o vilão mascarado que tem o poder de reviver pessoas e dar vidas a objetos falha, comete erros, tem problemas de personalidade e é derrotado por sua própria incompetência.

Enquanto que não se sabe o verdadeiro autor do argumento da história, se sabe que ela correu o mundo encontrando sucesso no México, França e Bélgica. O personagem ficou associado ao seu misterioso criador, nunca surgindo novamente em outra história.


E assim, misterioso, curioso e estranho, o primeiro “Super” brasileiro se vai. Visite a Playing Hero semana que vem para continuarmos nossa exploração do Brasil. Quais mistérios os 80 anos de gênero nos aguardam?

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