terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os Guardiões da Galáxia e o gênero de Supers


Os Guardiões da Galáxia são incríveis.
 Certo mas isso você já sabia, em especial se você clicou nesse artigo. Mas por “incrível” eu quero dizer mais do que como filme, ou como propriedade intelectual. Também não me refiro ao poder dos personagens ou ainda da qualidade do filme. E sim no (suposto) impacto que eles causaram na opinião pública, as "barreiras de gênero" que os Guardiões destruíram. Esse filme é a “pedra de roseta” para se compreender como o público consome super-heróis como gênero, e ao julgar as reações ao filme o futuro dessas outras mídias que se utilizem desse gênero é brilhante.

O estranho encontra o galático

Os primeiros Guardiões da Galáxia de Arnold Drak e Gene Colan. Da esquerda para direita:  Major VictoryCharlie-27Martinex e Yondu
A primeira coisa que salta aos olhos no filme é o quão colorido ele é, e a total falta de medo de ser estranho ou de ser ridículo. Se os acontecimentos de Guardiões ocorressem em um filme puramente Sci Fi estariam o chamando de “paródia” ou até mesmo uma comédia. As piadas e situações engraçadas quase não tem fim roubando cenas inteiras mas a genialidade do filme (E o que o aproxima do gênero, como veremos a seguir) é como tais cenas engraçadas são contrastadas com cenas sérias. Tais cenas sérias são absurdas e tem a mesma “altura” das cenas engraçadas. Se há uma piada envolvendo a prisão inteira e um plano de Rocky (Rocket Raccoon), há uma cena de ação de tirar o folego em igual proporção. Se há um discurso maligno de Ronan, há um discurso malandro de Peter Quill tentando (E falhando) conquistar o coração de Gamora.

Os Guardiões "modernos", de Dan Abnett e And Lanning. Da esquerda para direita: Gamora, Rocket Raccoon, Star-Lord, Adam Warlock, Drax e Phylla-Vell
O contraste do que é “sério” e “engraçado” no filme é gritante mas justamente por ser gritante é que o faz “pertencer” um ao outro. A história (quando) é séria, é maior do que a vida assim como o carisma de seus personagens e humor fazem parte da ideia de que são mais do que meramente humanos. O adjetivo “Super” pode ser jogado em qualquer elemento de Guardiões da Galáxia e ele não pareceria fora de lugar. Super Poderes? O filme não deixa nada explicito, mas os personagens tem bugigangas que fariam o Batman corar, “heróis” que se usam de espadas e facas que cortam ao meio seres vivos com armaduras pesadas, uma arvore imensa com super força e que aparentemente pode regenerar seus membros...Nunca é explicado quais são os poderes dos personagens exatamente mas que eles tem superpoderes ah eles tem.

Os Guardiões contemporâneos, por Michael Bendis e diversos outros artistas: Rocket Raccoon, Drax, Gamora e Star-Lord retornam, Groot que foi introduzido no time anterior também faz um retorno. Homem-de-Ferro se junta ao grupo com uma armadura nova 
A dicotomia dos personagens é algo que remete mais aos universos cósmicos e superpoderosos de Jack Kirby do que...As ruas de Nova Iorque de Jack Kirby. É engraçado apontar que esse filme tem tanto de um autor para diferencia-lo de “Vingadores”, “Thor” ou “Capitão America” ao mencionar esse autor novamente mas é essa a verdade: O herói com problemas, o herói estranho, bizarro e incoerente porém (eventualmente) puro é algo muito comum não apenas em “Surfista Prateado” mas é um tema recorrente tanto para as diferentes encarnações dos Guardiões da Galáxia clássicos (feitos por Arnold Drake e Gene Colan ) quanto ao ritmo dos quadrinhos envolvendo super-heróis intergaláticos.

A trilogia que nos introduziu ao poder cósmico, Galactus, e o Surfista Prateado, por Jack Kirby e Stan lee
Tal ritmo, nasceu com Galactus*, um supervilão complicado que estava além do bem e do mal, e o Surfista Prateado, o herói bizarro que serve um mestre destruidor, apesar do Surfista em si ter um coração gentil e puro.
O divino, o tecnológico, eles são um como evidenciado pelas estranhas máquinas de Galactus que o alimentam. Isso é um elemento muito comum as criações de Kirby (A Tecno-Asgard de Kirby é um ótimo exemplo) e como ele construiu a “base” para os universos intergaláticos tanto da Marvel quanto da DC os dois selos que moldaram o gênero de supers a ideia de “Aventura de Super Heróis” do espaço tem tais elementos. Não foi diferente no filme. A motivação do vilão foi um misto de vingança pessoal com dogma religioso e rituais estranhos com tecnologia que beira a magia junto de poderes cósmicos que não fazem sentido algum quando vistos por uma ótica mais “Hard Sci Fi”...Guardiões da Galáxia é o filme definitivo para a fusão de “Sci Fi intergalático” com “Super Heróis”.

E ao julgar a reações de crítico e público, Super Heróis não são mais limitados (Nunca realmente foram, mas a grande percepção de que “Filmes de herói são uma modinha” que você pode encontrar em críticos de cinema somado a filmes similares pode levar a tal conclusão) as grandes cidades e histórias de origem. O gênero deixou de ser uma formula, ao menos para o grande público.

E parte disso se deve ao esforço dos estúdios Marvel em tentar vender a ideia de que esses personagens convivem em um universo, com sua própria mitologia e lógica interna.
Resta saber se outras obras em outras mídias seguiriam como tal, e como o público consumiria tais produtos.


*É um tanto injusto fingir que apenas com a criação de "Galactus" que se construiu uma base para o "Super Herói intergalático". Jack Kirby e Stan Lee introduziram muitos conceitos de ficção cientifica e exploração espacial em seus quadrinhos do Quarteto Fantástico, incluindo diversos alienígenas e culturas fantásticas. Galactus contudo, foi o momento onde os temas que vemos hoje nos "Guardiões da Galáxia" emergiram com mais clareza.

Um comentário:

  1. Enfim depois de tempos voltei a ver teu blog, e pra variar ótimo e elucidativo artigo, ainda mais para um leigo em comics de super heróis que nem eu, que admira o gênero, mas tem ciência de não ter tido paciência pra conhecer mais a fundo as sagas em sua origem, as próprias HQs.

    ResponderExcluir