quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Turnê Mundial Brasil 2: Os Heróis dos Quadrinhos e TV


Nós voltamos novamente a nossa turnê, dessa vez buscando compreender o que vei o depois para o Brasil. O objetivo de nossa turnê não é enumerar as obras feitas, sequer é criar uma “timeline” com as mais importantes, e sim ver recortes do que foi produzido no pais ao longo do tempo e tentar compreender o que faz um “Super Herói Brasileiro” diferente dos outros – Se há alguma diferença (E nós assumimos que há, vide nossa introdução.)

Gedeone Malagola o pai dos super heróis brasileiros?



Garra Cinzenta foi talvez a primeira tirinha do gênero de super feito por  brasileiros, mas nem de longe foi o único. Há um argumento a ser feito sobre Macunaíma, o livro de 1928 ter elementos de uma história de super heroísmo, o personagem titular é inclusive chamado de “Herói de nossa gente.”. Como esse livro é extremamente influencial para a cultura brasileira além de ser uma obra icônica e inesquecível, iremos falar sobre ela em uma futura postagem, longe dessa coluna de turnê mundial.

Vamos entrar no que definiu o gênero de super heróis diretamente no Brasil, quadrinhos, capas, roupas colantes e histórias absurdas. E é impossível falar do começo de tais justiceiros e não falar de Gedeone Malagola.
Ou melhor ainda, por que não deixar que as obras de Malagola falem por si mesmas?



Em “Raio Negro”, temos um personagem fortemente inspirado pelo Lanterna Verde da DC, uma história de origem similar, um anel com poderes similares. Contudo o tom das histórias e o personagem em si eram um tanto diferentes. Raio Negro era o “primeiro astronauta brasileiro” e fazia parte da Força Aeronáutica Brasileira, em sua história de origem ele é um candidato escolhido por lideres (fictícios) da ditadura militar brasileira para tal viagem.

Curiosamente (ou talvez pelo personagem ter sido criado no primeiro ano de tal ditadura militar) a presença dos militares no poder do Brasil é algo que é sequer tocado ou refletido na revista. É apenas “como as coisas são”. É interessante o contraste ler um gibi do  Lanterna Verde nessa mesma época onde ele é um mero civil, quando ambos os personagens agem independentemente de seus governos. O Raio Negro pode ser um militar, parte da ditadura militar do pais, mas ele é acima disso um Super Herói, e ele procura proteger todos aqueles que cruzam o seu caminho independentes de seus contextos ou afiliações politicas, que raramente surgem nas histórias.

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Outro personagem que foi criado por Malagola e que era publicado junto com Raio Negro em almanaques da época era o misterioso Homem-Lua.  Este personagem interagia com diversas figuras brasileiras, inclusive tribos indígenas, e suas histórias sempre tinham o tema do misterioso, do estranho. Claramente inspirado no “Fantasma”, mas as histórias tinham um tom bem próprio. Ele está mais para um “irmão” de tal famoso personagem do que uma mera cópia, tal qual o Raio-Negro.




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A presença de Malagola se estende até mesmo ao popular Capitão 7, ao qual ele era um dos roteiristas. Tal personagem tem o curioso nome derivado do canal de onde um programa com atores sobre o personagem era exibido. Ele é claramente inspirado pelo Super-Homem mas suas histórias e personalidade tinham mais a ver com Flash Gordon.
A principio, a obra desse brasileiro enquanto que popular é derivada, mas ainda falta mencionarmos mais um dos personagens escritos por ele – O Vigilante Rodoviário
Tal personagem não foi criado por Malagola, e sim por Ary Fernandes. Como roteirista, Malagola trabalhou em um personagem “totalmente brasileiro”, sem grandes elementos inspirados dos heróis americanos e com um uniforme e profissão de uma classe que era bastante popular na época – A de policiais rodoviário. Contudo, semelhanças com seriados americanos de “ação” ou “aventura” da época podiam ser observadas na estrutura da trama.


Uma série inesquecível para quem assistiu

O caso do Judoka

O Campeão Brasileiro! Note que na capa da esquerda, é o design do "Judomaster" da DC, personagem ao qual o Judoka substituiu eventualmente.


Criado por Pedro Anísio e Eduardo Baron, o personagem brasileiro “Judoka” surgiu após a edição numero sete de “Judomaster”, em um gibi que publicava as histórias desse personagem da DC.
A história dos dois mestres de judô é similar: Ambos aprendem a arte marcial com um mestre japônes, mas enquanto que o original ganha tal honra após salvar uma ilha do pacifico, a versão brasileira conhece um mestre que o ensina, sem grandes feitos heroicos.
Judomaster original era um quadrinho de artes marciais com vários tropes de  super agente secreto, enquanto O Judoka era basicamente um quadrinho de artes marciais de época com alguns elementos era-de-prata vistos em quadrinhos DC e Marvel da época, com vilões coloridos e planos absurdos, mas o foco era nas artes marciais e referencias ao Brasil e localidades.

Qualquer HQ que possua uma Múmia Incendiária merece uma revisita
Herois Brasileiros
Estes são apenas alguns exemplos dos heróis que foram publicados por aqui na mídia de quadrinhos, repare como todos tem certas conexões conceituais com super heróis americanos, mas que ao mesmo tempo são personagens que conseguiram existir, que tinham um público e diversas histórias publicadas.
Se o Garra Cinzenta era uma apropriação de um conceito não-brasileiro e colocando alguns traços de Brasil nele, esses personagens levam isso a outro nivél. O Judoka e O Raio Negro por exemplo são conceitos de personagens que já existiram, mas quando reescritos por um prisma brasileiro tomaram formas, tons e até mesmo sub gêneros diferentes. Há uma apropriação e transformação cultural nesses personagens ao que os torna icônicos. 

Repare como o traço das HQs do Raio Negro são mais simples, em especial o fundo, mas repare também como o fundo faz parte da ação, com onomatopeias se transformando em parte da cena, e o contraste das cores criando cenas diferentes. No quadrinho do Lanterna Verde da mesma época, o traço era ordeiro, há uma preocupação com cores pertencerem a diferentes elementos da cena, o cenário é bem definido assim como os músculos do personagem. Ambos são válidos, mas o fato de serem diferentes destrói a noção de que Raio Negro é uma mera copia - Ele é sua própria criatura. 


Mês que vem, a última parte de nossa turnê por esse Brasil Super-Heróico. Fiquem ligados!
Para nossa postagem, vamos em encontro a Justiça Jogável.

4 comentários:

  1. Rapaz, que nostalgia me deu agora de ver o Judoka. Eu lia essa revista e ele era um dos meus heróis favoritos. Bem legal o artigo. Parabéns.

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    1. Eu estou dando uma passada por alto por personagens importantes para o gênero que nasceram no Brasil, então eu apenas pude mencionar um pouco das origens do Judoka.
      É uma série de artigos longa, onde eu ficarei vendo personagens de outros países também, mas eu sempre quis estudar a fundo e postar mais sobre o Judoka, Raio Negro e Capitão 7. São personagens que me fascinam.

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  2. Legal as postagens, e espero que o movimento vacila renasça! Estamos vendo muitas iniciativas legais hoje em dia!

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  3. E a questão do traço acredito que seja porque os Estadunidenses tinham mais prática e tempo de uso, hoje inclusive tem muito Brasileiro desenhando os quadrinhos deles XD

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